Na foto, o edifício da Câmara Municipal de Ribeirão Preto. Os vereadores de Ribeirão aprovaram reajuste de 50% dos vencimentos para prefeito, vice-prefeito, secretários municipais e para os próprios vereadores.
Salários, bonificações, limpeza, luz, internet e viagens. Estes são alguns dos gastos que cada cidadão paulista banca para manter 6.908 vereadores e ao menos 25 mil servidores das 664 Câmaras existentes no Estado, que estão sob fiscalização do Tribunal de Contas de São Paulo (TCE-SP). Mas você sabe qual custo? De maneira geral, entre abril de 2022 e abril 2023, os moradores do Interior do Estado de São Paulo desembolsaram R$ 3.404.813.545,97 para manter o Poder Legislativo em suas cidades, de acordo com a Corte.
Apenas a capital, que segundo seu orçamento liquidado gastou outros R$ 661.699.819,40 em 2022, não é fiscalizada pelo TCE. No total, são R$ 4,06 bilhões para bancar os vereadores e suas estruturas nas 665 cidades paulistas.
O munícipe de Borá, menor cidade do Estado, com 907 moradores, é o que mais gasta por habitante. São R$ 964,01 per capita por ano para a Câmara funcionar. A 487 km da capital paulista, Borá tem 9 vereadores e 12 servidores concursados. Não há comissionados. O município é o único do Estado de São Paulo com menos de mil habitantes. A população inteira de Borá caberia num grande edifício de apartamentos ou num loteamento com 250 lotes.
Os dados mostram ainda como os municípios pequenos são dependentes de repasses dos governos estadual e federal. Borá, por exemplo, é uma cidade com arrecadação própria inferior ao custo anual da Câmara. Foram arrecadados pouco mais de R$ 600 mil e, para bancar o Legislativo, o gasto orçamentário foi de R$ 874 mil.
Para cobrir a diferença, municípios como Borá precisam de repasses oriundos, por exemplo, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS).
Diretora de Programas da Transparência Brasil, Marina Atoji diz que “em nenhum contexto ou cenário é razoável que o custeio das atividades de vereadores seja maior do que a receita do município. Quando isso acontece, é porque há uma gravíssima distorção nas prioridades do orçamento público da cidade. Recursos que deveriam ser aplicados em políticas públicas essenciais, como saúde e educação, estão sendo usados em despesas desnecessárias ou com baixo impacto sobre o bem-estar e atendimento à população”.
No total, São Paulo tem nove cidades com Câmaras ao custo por habitante acima de R$ 500. Atrás de Borá aparecem Nova Castilho, Flora Rica, Louveira, Pontes Gestal, União Paulista, Sandovalina, Dirce Reis, Turiúba e Fernão.
Sem recursos próprios, municípios pequenos não deveriam existir, avalia especialista
O fraco desempenho para criar meios de obter recursos próprios deixa as cidades com nível de dependência de outros entes federados, o que não é situação boa. Mestre em direito constitucional pela USP, Antonio Carlos Freitas afirma que os municípios precisam ter uma boa performance financeira e administrativa.
“Existem municípios que não fazem sentido existir. Se você não tem município autossustentável, é economicamente inviável. Organizações muito pequenas são ruins para performance financeira, administrativa. Para municípios pequenos é ruim ter Prefeitura e, sobretudo, ter uma Câmara. Além da economia, para ter uma Câmara Municipal é preciso que haja demanda de legislação local específica. Existem municípios vizinhos que têm mesma cultura, mesmo problema, a mesma geografia. É lógico que você pode ter a mesma Câmara Municipal, o regramento local poderia ser o mesmo. Em determinadas regiões, as leis locais são muito semelhantes”, afirmou Freitas, que é doutorando em direito constitucional pela USP.
Do ponto de vista administrativo, Freitas defende a união de municípios pequenos que, continuarão a gastar com demandas Legislativas, mas em uma intensidade menor. “É muito mais inteligente, é muito mais eficiente unir esses municípios para que melhore a performance legislativa, porque terá leis melhores, continua gastando, mas com a unificação gasta-se melhor, consegue dialogar melhor com a população, consegue contratar pareceristas, contratar uma base técnica. A Câmara precisa gastar dinheiro, mas não dá para ficar gastando com cada quadrilátero virando município e ter gasto de Câmara. O grande nó é esse. Realidade idênticas com Câmaras diferentes”, disse.
Freitas avalia ainda que a multiplicação de municípios pelo Brasil tem como plano de fundo a política, porque obrigatoriamente todos precisam de representantes dos Poderes Públicos. “São pequenas ditaduras, aristocracias políticas que se alimentam da vida pública à revelia da qualidade de vida da população e da qualidade legislativa, que poderia contar com leis melhores, vigência em território maior. O grande problema do Pacto Federativo foi dar muita demanda ao município e recursos escassos”, afirmou.
Freitas concluiu, ressaltando que, hoje, o pequeno município tem vereadores que dependem do deputado estadual, que dependem de um deputado federal para conseguir recursos. “Na campanha, o deputado que ajudou vai ter aquele vereador como cabo eleitoral. Então é uma dependência calculada para criar processos de apoio político mútuo.”
Custo da Câmara de São Paulo é de quase R$ 60 por morador
Diferentemente das 664 cidades paulistas, a Capital é fiscalizada pelo Tribunal de Contas do Município (TCM). De acordo com dados do portal do tribunal, a Câmara de São Paulo liquidou R$ 661.699.819,40 para o ano de 2022. Este valor de custo da Câmara mostra que cada paulistano (11.451.999 moradores, de acordo com IBGE) arca com R$ 57,78 para manter o Poder Legislativo. Na Capital, são 55 vereadores.